
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (30) manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano, pondo fim a um ciclo de alta que começou em setembro e durou sete reuniões. A decisão foi unânime e já havia sido sinalizada pelos próprios diretores do BC em junho, sendo amplamente esperada pelo mercado financeiro.
O colegiado do Banco Central explicou que a interrupção no ciclo de alta dos juros visa “examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados”. A ideia é avaliar se o nível atual da taxa, mantida por um período prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta.
Na avaliação do cenário externo, o Copom comentou que ele está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Essa situação, que tem afetado a volatilidade de diferentes classes de ativos e as condições financeiras globais, exige particular cautela por parte de países emergentes.
Sobre o cenário doméstico, o Comitê avaliou que os indicadores de atividade econômica têm apresentado, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. O comunicado também ressaltou que, nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação.
O BC manteve sua projeção para o IPCA cheio de 2025 em 4,9%, assim como a estimativa para 2026, em 3,6%. Houve uma ligeira queda na projeção para os preços livres no indicador, de 5,2% para 5,1% em 2025, mas foi feito um ajuste para cima nos preços administrados, que passaram de uma alta de 3,8% para 4,4% neste ano.
Com a manutenção da Taxa Selic em 15%, o Brasil passa a acumular juros reais de 9,76% (descontada a inflação), de acordo com levantamento da MoneYou e Lev Intelligence. Isso coloca o país em segundo lugar no ranking de países com maiores juros reais do mundo, atrás apenas da Turquia (10,08%) e à frente de Argentina (6,7%), África do Sul (5,29%) e Rússia (4,86%). A média global de juros é de 1,66%.
O Copom reforçou que os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta, destacam-se a desancoragem das expectativas de inflação, maior resiliência na inflação de serviços e a conjunção de políticas econômicas com impacto inflacionário maior que o esperado. Já os riscos de baixa incluem uma desaceleração da atividade econômica doméstica, uma desaceleração global mais pronunciada e uma redução nos preços das commodities.
O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em um cenário de maior incerteza. Além disso, o Copom segue monitorando como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário, segundo o BC, segue marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.
O Copom finalizou seu comunicado enfatizando que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.